Artigos sobre DC


A DOENÇA CELÍACA

Dr. Francisco Penna

A doença celíaca é uma intolerância permanente ao glúten, que é uma fração protéica existente no trigo, centeio, cevada, aveia e seus derivados. A doença celíaca caracteriza-se por uma alteração no intestino delgado, com redução, consequente, da absorção de vários nutrientes.

A doença celíaca é de origem genética, por este motivo sua frequência é maior em algumas populações. Há países na Europa que para cada 250 crianças nascidas, uma tem doença celíaca. Em nosso meio não há levantamento estatístico, entretanto, a doença é mais frequente do que se pode imaginar. Sendo genética, a ocorrência em familiares é maior do que na população geral. Diante disso, os familiares de pacientes celíacos devem sempre ser vistos com maior chance de terem a doença. Alguns pacientes podem ter a doença, praticamente sem manifestações clínicas que chamem a atenção para o diagnóstico.

Na atualidade são utilizados testes laboratoriais, que são anticorpos específicos (antigliadina, antiendomísio e antitransglutaminase tecidual) que têm como objetivo selecionar os pacientes que devem se submeter à biopsia do intestino delgado, que é condição indispensável para o diagnóstico definitivo da doença. A referida biópsia é procedimento simples, indolor e que não requer internação para sua realização. Muitos serviços de gastroenterologia, na atualidade, fazem a biópsia através de endoscopia. Nosso serviço continua preferindo a biópsia através de uma cápsula metálica apropriada.


A Psicologia e a Doença Celíaca

Dra. Aline Mayrink

O diagnóstico da doença celíaca provoca várias repercussões na vida da pessoa. Exigindo adaptações em diversos âmbitos – alimentar, comportamental, emocional, econômico, psicológico, social e religioso.

Ser celíaco introduz um novo modo de ser e estar no mundo, constituindo uma nova e desconhecida realidade diante da qual a pessoa precisa se posicionar. A aceitação do diagnóstico de uma doença crônica e dessa nova condição de vida nem sempre é fácil. Esse momento, em geral, é acompanhado por um turbilhão emocional, envolvendo incertezas, medos, sensação de exclusão e vários outros tipos de sentimentos e angústias. A reação e postura de cada um frente a tudo isso é muito variável e singular, sendo influenciada fortemente por aspectos psicológicos. Sabemos dessa influência e da importância de uma verdadeira aceitação do diagnóstico para o efetivo controle e tratamento da doença (e uma conseqüente melhoria na qualidade de vida).

Neste sentido, um apoio psicológico mostra-se valioso, tanto para celíacos como também para seus familiares, pois pode auxiliar na compreensão e elaboração
do impacto causado pela doença, considerando seus aspectos subjetivos, interpessoais e sociais.

Aline Mayrink – Psicóloga Gestalt-terapeuta
Contatos: Celular: (31) 9209-4769
E-mail: amayrink@gmail.com


Doença celíaca ou sensibilidade ao glúten não celíaca?

No Simpósio Clínico da AGA, terça-feira (22/5), o Prof. Joseph A. Muray, da Mayo Clinic, esclareceu em sua apresentação que a doença celíaca apresenta-se com uma condição bem definida. A doença se caracteriza por uma inflamação no intestino delgado, que ocorre em indivíduos geneticamente predispostos (DQ2/8), com formação de anticorpos e dependente do glúten.

O seu diagnóstico em indivíduos que estão ingerindo glúten pode ser feito por meio da detecção de anticorpos específicos (TTg-Iga ou DPG IgA/IgG), biópsia duodenal e confirmada pela retirada do glúten da dieta.

Por outro lado, a sensibilidade ao glúten não celíaca pode ser definida como desordens ou condições morfológicas, imunológicas ou funcionais que respondem à exclusão do glúten, na ausência de doença celíaca. Esta condição pode ser encontrada, por exemplo, em muitos pacientes com síndrome do intestino irritável (SII), que respondem favoravelmente à retirada do glúten da dieta.

Já o Prof. David S. Sanders, da University of Shefield, demonstrou em estudos experimentais, que o glúten induziu ativação da imunidade inata e disfunção neuromotora intestinal em ratos, na ausência de uma resposta autoimune.

Concluiu sua apresentação dizendo que o glúten pode induzir ao aparecimento de sintomas funcionais, tanto em animais de experimentação com em seres humanos, na ausência de doença celíaca e que os mecanismos que explicam tais alterações não estão esclarecidos.

Dr. Mauro Bafutto
CRM: GO 4705
– Professor da disciplina de Gastroenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás – FMUFG
-Diretor Clínico e Investigador Principal do Instituto Goiano de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva


Entendendo a osteoporose nos celíacos

A doença celíaca é uma reação exagerada do sistema imunológico ao glúten, levando à inflamação crônica do intestino delgado e consequente atrofia das vilosidades intestinais. De origem genética, devido a síndrome de má absorção intestinal, pode causar anemia, perda de peso e osteoporose.

A osteoporose é uma doença caracterizada por redução da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo. A doença aumenta a fragilidade do osso e o risco de fraturas em vértebras, radio distal no antebraço, punho, costelas, colo do fêmur e colo do úmero.

De maneira indolor e silenciosa, a osteoporose se instala em celíacos com uma frequência 10x maior em relação a indivíduos não celíacos. Cerca de 40 a 70% dos celíacos tem osteopenia (perda óssea de -1.0 a -2.5 ao exame de densitometria óssea – DMO) e mais de 50% desenvolvem osteoporose (perda óssea maior que -2.5 à DMO). Osteopenia e osteoporose podem ser a única manifestação de doença celíaca em adultos.

Por que ocorre a osteoporose?

A baixa absorção do cálcio nos intestinos inflamados ou atróficos, em celíacos que transgridem a dieta e a hipovitaminose D, estimulam a secreção do hormônio da glândula paratireoide (PTH), que retira o cálcio dos ossos e o lança no sangue (hiperparatireoidismo secundário). Os celíacos com baixa massa adiposa possuem níveis reduzidos de leptina, que desempenha um papel ativo na remodelação óssea.

A osteoporose tem outras causas?

– A osteoporose tem incidência familiar. Se há casos de fratura nos familiares próximos, a chance nos celíacos aumenta.

– Mulheres com baixo nível do hormônio feminino estrogênio (menopausa) e homens com deficiência de testosterona (hipogonadismo e andropausa) também tem mais propensão a osteoporose.

– Uso de medicamentos como anticonvulsivantes, corticoides, heparina ou abuso de álcool e cigarro pioram a massa óssea.

– Diabetes, hipertireoidismo e insuficiência renal.

A osteoporose tem tratamento?

Sim. O ganho de massa óssea é maior no 1o ano de tratamento. O principal tratamento é desinflamar os intestinos, torná-lo saudável para receber os nutrientes. Em crianças e adolescentes com osteoporose, a introdução de dieta isenta de glúten, rica em cálcio e a reposição de vitamina D são suficientes para a recuperação da densidade óssea. Em adultos acima de 50 anos, além do cálcio e da vitamina D, será necessário o uso de medicamentos como os bifosfonatos (alendronato de sódio, risedronato ou ácido zoledrônico) biológico (denosumabe) ou calcitonina de salmão.

Como posso melhorar a densidade óssea e reduzir o risco de fraturas?

  • Nos celíacos o principal é preservar a função dos intestinos evitando o glúten. Hoje, há várias opções de receitas e alimentos sem glúten.
  • Exercícios físicos aeróbicos aumentam a massa óssea e a musculação reduz o risco de quedas.
  • Retirar tapetes da casa, uso de calçados antiderrapantes e colocação de barras de segurança em banheiros são medidas simples e eficazes para evitar quedas da própria altura.
  • Tomar banho de sol pela manhã ou no fim da tarde melhora os níveis de vitamina D no sangue.
  • Usar produtos lácteos como iogurtes, queijo branco e leite, 04 porções ao dia – nos intolerantes a lactose há opções sem lactose.
  • Fazer densitometria óssea para diagnóstico e acompanhamento.
  • Lembrar sempre que o importante para uma vida feliz e saudável é cuidar do corpo, da mente e das relações sociais.

Dra. Márcia Veloso Kuahara

Médica

Residência em Clínica Médica e Reumatologia no Hospital das Clínicas da UFMG

Mestrado e Doutorado na UNIFESP